por Letícia Wierzchowski
Contar histórias para mim é um modo de entender a vida; de guardá-la, encapsulada em palavras e frases, para que, um dia, ao ser lida, volte a pulsar, renascida na imaginação do seu leitor. Pois tudo, tudo nesta vida são histórias. As pessoas, as casas, os bairros, os países são história. Os amores, os medos, as viagens. Tudo história.
Porto Alegre, cidade onde nasci, é uma história que dura já 252 anos. Mas, houve um tempo em que, de tão infante, nossa cidade nem bairros tinha. Possuía o seu “centro” e, ao redor dele, se iam espalhando sem muita lógica os arraiais – pequenos núcleos habitacionais que quase sempre nasciam ao redor de uma capela ou igrejinha. Nesses arraiais, havia moinhos, serrarias e matadouros, cujo funcionamento ia abastecendo a população das suas redondezas.
Com o bairro Moinhos de Vento, a história não foi diferente. Dizem que havia, no morro que hoje se chama Ricaldone, um grande moinho de vento. Este moinho no alto do morro tinha a óbvia função de produzir farinha para a região.
Mas, vamos com calma.
Não foi este moinho que deu nome ao bairro.
Acontece que, à altura de onde está hoje a Santa Casa de Misericórdia, havia um mui conhecido caminho chamado Estrada da Aldeia. Ali, quase à altura de onde hoje temos a rua Barros Cassal, um comerciante de alcunha “Barbosa Mineiro” instalou uma série de moinhos – depois disso, o famoso caminho passou a ser conhecido como Estrada dos Moinhos de Vento. O nome ficou. E agora sim: muitos anos depois, esta estrada que descia para os lados de onde agora temos a Mostardeiro e a Rua 24 de Outubro é que nomeou o bairro.
Mas saibam que os moinhos de Barbosa Mineiro foram todos postos abaixo por um decreto imperial – aconteceu na sangrenta época em que Guerra dos Farrapos assolava o Rio Grande e a capital da província resistia ao cerco republicano. Segundo os militares do Império, os tais moinhos de Barbosa Mineiro se prestavam como pontos de tiro alto aos inimigos farrapos que cercavam a cidade havia mais de ano. Foram ao chão os moinhos, foi ao chão a República Rio-grandense, mas ficaram-nos as histórias.
Voltemos ao passado.