por Letícia Wierzchowski
O Moinhos se costura às minhas histórias com o fio invisível do tempo – do meu tempo, dos anos tantos nos quais por ele circulo, apressada às vezes, mas sempre atenta às suas esquinas, jardins e varandas. Faço a minha vida pelo Moinhos, pelas suas ruas eu ando, cansada às vezes, para respirar dos meus personagens.
Sou porto-alegrense; de menina, o bairro era, para mim, o parque, o grande parque onde eu corria – com suas alamedas verdes, afagadas pela sombra do arvoredo, com seu lago repleto de patos e seu moinho de pás ao vento.
Eu corria por tudo, depois parava defronte ao moinho e, ofegante, sempre curiosa, olhava suas pás quietas e perguntava aos adultos, mas quanto vento já passou por aqui?
Minha mãe não tinha todas as respostas que eu queria, mas também tinha as suas histórias: filha de um imigrante polonês, engenheiro, a mãe vira de perto as transformações do bairro Moinhos de Vento. Foi meu avô, Jan Wierzchowski, um dos responsáveis pela enorme obra que entregou ao bairro a bela sede em estilo art nouveau do Clube Leopoldina Juvenil, num distante junho do ano de 1954. O avô Jan também daria outra contribuição à região, construiria o Teatro Leopoldina, o antigo Teatro da OSPA. A mãe gostava de contar, toda suspirosa, que fora a um grande espetáculo no Teatro Leopoldina (quiçá sua inauguração em outubro de 1963) e, adolescente ainda, vira Bibi Ferreira cantar Edith Piaf no palco recém-entregue aos porto-alegrenses.
Histórias de outros tempos e de um bairro que mora no coração das gentes dessa cidade austral. Um bairro que é patrimônio de todos nós, que por suas ruas andamos, sonhamos, crescemos, demos a mão a um amor, sentimos o frio Minuano dos invernos, vimos um entardecer vermelho descer sobre o casario, tingindo as calçadas de uma luz que só habita este nosso sul.
No dicionário, bairro é “cada uma das partes em que se divide uma cidade ou vila, para facilitar a orientação das pessoas e possibilitar a administração pública mais eficaz.” A lei 2022 do ano de 1959 encerra o bairro Moinhos de Vento nos seguintes limites: Rua Mostardeiro, desde esquina da Dr. Vale até esquina Coronel Bordini, Bordini sentido sul-norte até Marquês do Pombal; Marquês do Pombal até Travessa Carmem, e dela, numa linha imaginária seguindo a encosta norte do Morro Ricaldone até a Doutor Vale; e no sentido norte-sul até encontrar a Mostardeiro.