por Letícia Wierzchowski
Escrever sobre o bairro Moinhos de Vento e sobre suas ruas, para uma romancista como eu, é abrir a Caixa de Pandora. Há tanta coisa a ser narrada, tantas histórias encrustadas nas pedras que calçam esses caminhos, tantos beijos de amor perdidos nas esquinas do tempo – um bairro é o apanhado de milhares de vidas, séculos de paixões, guerras, tempestades, crises políticas, revoluções, nascimentos e mortes.
Cada rua guarda uma história. A pequena e suave Marquês do Herval, ruazinha doce pela qual passo diariamente, revelou-se para mim um tesouro de narrativas. O General Osório, que já cruzou pelas páginas do meu romance Um farol no pampa – homem corajoso, de coração honrado, tinha um título nobiliárquico que me escapava – era o Marquês da nossa rua querida; rua na qual palpita a sede do Clube Leopoldina Juvenil, cuja construção foi feita, lá nos anos 1960, pelo meu avô engenheiro, Jan Wierzchowski.
É bonito ver estas costuras de cotidiano e de passado. O bairro mais charmoso da capital gaúcha guarda incontáveis narrativas e segredos escondidos nas suas esquinas. E, assim como eu, muitos outros escritores gaúchos andaram por estas ruas, e aqui sorriram, e aqui sonharam, e aqui inventaram suas histórias.
A escritora Cíntia Moscovich é uma das moradoras da Marquês do Herval – creio que todos os seus livros nasceram ou foram escritos bem ali, pertinho da Casa Strassburger; decerto, vizinhos que foram, as famílias tinham suas histórias em comum, e alguma das páginas da Cíntia brotou do que ela viu ou viveu na ruazinha sombreada que risca o Moinhos de Vento, da Santo Inácio até a Coronel Bordini
Outro ilustre escritor que morou no bairro foi Erico Verissimo. No final da década de 30, Erico e sua esposa, Mafalda, viviam na Avenida Quintino Bocaiúva; e foi aqui no Moinhos de Vento, em casa mesmo, que nasceu o nosso maior cronista, Luis Fernando Verissimo.