por Letícia Wierzchowski
Desde os cueiros, Manuel Luís Osório já era um grande ginete, laçava bem e pulava com elegância no lombo do petiço. Seu pai, homem do pampa e das fileiras do Exército Imperial, botou olho no filho, sabia que o guri ia ter sangue nas ventas. Manuel Luís Osório gostava das histórias de guerra do pai e da sua farda cheia de galões. Ainda imberbe, começou a segui-lo no front, aprendendo com ele os conceitos rudimentares da arte da guerra. Um dia, o pai lhe disse, De agora em diante, vais te chamar apenas Osório, começa a honrar o teu nome.
Osório era um garoto estudioso, excelente aluno. Mas, por força das circunstâncias, cria de fronteira que era, logo se viu na lida de soldado. Não existe profissão mais gloriosa, disse-lhe o pai. Aqui onde vivemos, não há outro futuro, serás um guerreiro. No sul, só tem caminho quem nasce rico ou entra no exército.
Selou-se o destino de Osório, o front. Em 1825, com 17 anos, ele foi para a Guerra da Cisplatina. Na Batalha de Sarandi, Osório destacou-se bravamente, e foi o único oficial do seu esquadrão que voltou vivo para casa, não antes de salvar a vida do seu comandante. Nascia ali o mito do rapaz façanhudo – desta guerra, Osório viria coberto de glórias, mas sem um pingo de vaidade.
Foi em Rio Pardo, na volta da Cisplatina, que Osório conheceu o amor. E o amor tinha um nome – Anna. Vê-la e amá-la foi coisa de um minuto, ele diria sempre. A paixão foi forte e recíproca, Anna também encantou-se com o galante soldado, herói de folhetim – alto, forte, belo, valente e famoso. Além disso, diziam que era poeta de mão cheia.
Mas a violência de tal amor assustou os pais da moça. Pediram ao padrinho da menina, Marechal Sebastião Barreto, que separasse os dois. Em poucos dias, o jovem Osório recebeu ordens de assumir um agrupamento de fronteira lá nas margens do Jaguarão. Anna, pobrezita, casou-se com outro, obrigada pelos pais. Algum tempo depois destas trágicas bodas, Osório recebeu a notícia da sua morte. Anna fenecera de tristeza, com seu nome escrito a tinta no seio do lado do coração.
Essa desdita mergulhou o jovem Osório num desencanto abissal e o afastou do conservadorismo que arruinara seu grande amor. Filiou-se ao partido Liberal, mas foi a convivência com o General Antônio de Souza Netto, ao lado de quem Osório acabou lutando na Revolução Farroupilha, que o afastaria de vez da tristeza.
Osório voltava ao centro dos acontecimentos por conta da simpatia pela causa farroupilha. Ele lutou furiosamente ao lado dos rebeldes, mas só até a proclamação da República Rio- grandense. Quando o movimento ganhou feição separatista, Osório reintegrou-se ao Exército Imperial, era fiel a D. Pedro. Tornou-se capitão em 1838, major em 1944. Auxiliou Caxias na feitura da paz de Poncho Verde quando a Guerra dos Farrapos finalmente chegou ao seu desfecho. Finda a revolução, Dom Pedro II, ainda muito jovem, decidiu visitar o sul com o fito de consolidar a paz. Caxias confiou a Osório esta delicada missão, pois ele era um dos poucos comandantes que tinha trânsito nos dois lados da guerra.